27 de outubro de 2005

O Guardador de Rebanhos

"O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho costume de andar pelas estradas,
Olhando para a direita e para a esquerda
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para eterna novidade do mundo... Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender... O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."
Fernando Pessoa

2 comentários:

Anônimo disse...

ainda folheias esse livro....pois.."pensar doi como andar à chuva..."essa é q é essa...

J. disse...

folheio sim, sempre! Porque faz sempre sentido... e porque me faz não pensar.